sábado, 2 de janeiro de 2016

021. Antologia Poética


Antologia Poética
Olavo Bilac

Estava bisbilhotando a biblioteca quando comecei a ver um monte de livros de poesias. Esse é bem fininho e em versão pocket, então achei que fosse bom para eu ler e não fosse me cansar se fosse ruim.

De fato, não chegou a me cansar. Mas tenho a impressão de que as melhores poesias ficaram para o final. As poesias infantis de Olavo me deslumbrou. Muito, muito lindo mesmo. Gostei de algumas que ele fala da amada, de saudades, da mãe, mas não são tão boas quanto as infantis.
Em relação à rima, ela sempre está presente com um fator poderoso. E não são rimas esdruxulas, são rimas que você vai lendo e achando que ela não está presente, mas ela está lá, toda bela.

Quanto a organização do livro, achei digno a edição ter colocado uma breve biografia do autor no início (pode ser meio batido isso, mas recentemente li um livro que a biografia ficava no final e o glossário no meio do livro. Vai entender). A edição pocket também valorizou a poesia de Olavo, já que são todas pequenas e cabem direitinho em uma página. O que me deixou meio triste foi a primeira parte das poesias não conter título. Fica meio estranho isso, tudo enumerado em romanos.

Vou deixar aqui uma das preferidas que li. 
Estava planejando colocar uma de saudades da amada e tals, mas essa foi um espinho no meu coração e fez eu pensar bastante, já que sou apaixonada por pássaros. 


''O Pássaro Cativo

Armas, num galho de árvore, o alçapão;
E, em breve, uma avezinha descuidada,
Batendo as asas cai na escravidão.

Dás-lhe então, por esplêndida morada,
A gaiola dourada;
Dás-lhe alpiste, e água fresca, e ovos, e tudo:
Porque é que, tendo tudo, há de ficar
O passarinho mudo,
Arrepiado e triste, sem cantar?

É que, crença, os pássaros não falam.
Só gorjeando a sua dor exalam,
Sem que os homens os possam entender;
Se os pássaros falassem,
Talvez os teus ouvidos escutassem
Este cativo pássaro dizer:

“Não quero o teu alpiste!
Gosto mais do alimento que procuro
Na mata livre em que a voar me viste;
Tenho água fresca num recanto escuro
Da selva em que nasci;

Da mata entre os verdores,
Tenho frutos e flores,
Sem precisar de ti!
Não quero a tua esplêndida gaiola!
Pois nenhuma riqueza me consola

De haver perdido aquilo que perdi ...
Prefiro o ninho humilde, construído
De folhas secas, plácido, e escondido
Entre os galhos das árvores amigas ...

Solta-me ao vento e ao sol!
Com que direito à escravidão me obrigas?
Quero saudar as pompas do arrebol!
Quero, ao cair da tarde,
Entoar minhas tristíssimas cantigas!
Por que me prendes? Solta-me covarde!
Deus me deu por gaiola a imensidade:
Não me roubes a minha liberdade ...
Quero voar! voar! ... “

Estas cousas o pássaro diria,
Se pudesse falar.
E a tua alma, criança, tremeria,
Vendo tanta aflição:
E a tua mão tremendo, lhe abriria

A porta da prisão...''

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