sábado, 1 de agosto de 2015

011. A Marca de uma Lágrima


A Marca de uma Lágrima
Pedro Bandeira

Em julho do ano passado comentaram sobre esse livro comigo e eu coloquei na lista para ler. Mês passado peguei na biblioteca A Droga da Obediência pensando que fosse esse livro, mas ok. Foi um erro bom porque se este daqui fosse meu primeiro livro de Pedro Bandeira, acho que não voltaria a ler ele. Simples assim.

-NARRATIVA: escrito em terceira pessoa com linguagem adolescente. Isabel é uma garota que curte e sabe escrever poesias, então dá um toque literário à obra, e sempre que possível, Bandeira coloca as poesias dela associadas com autores mais conhecidos como Fernando Pessoa, Augusto dos Anjos, o tio da Morte e Vida Severina. Eu gosto dessa forma que ele escreve, remetendo outros autores para que a moçada que se interessar, saber onde encontrar poesias de qualidade.. (ou não).

Pedro Bandeira também aposta no humor em algumas partes, um humor negro que me deixou sorridente.
No mais, quando Isabel tá delirando nos calmantes, Pedro mostra os pensamentos da garota para o leitor, e no fim do livro sabemos que o delírio não se passava apenas na cabeça dela, mas que ela falou tudo aquilo dentro da ambulância e no hospital. A propósito, não sabia que grandes doses de calmante pode deixar a pessoa faladeira, parece antagônico, mas acho que já ouvi falar sobre isso num passado distante, sei lá. Não deixa de ser interessante.

-TRAMA: achei confuso. O primeiro capítulo é completamente voltado para a paixão de Isabel pelo primo (pelo primo??), que ama Rosana e como isso vai se desdobrando. Ao meu ver esse primeiro capítulo até parece um conto. Aí vem o segundo capítulo com o assassinato da diretora da escola, investigação e parece que toda a paixão fica escondida de certa forma. Para mim pareceu outro conto com personagens novos e alguns que o leitor já conhece. Aí o terceiro acontece no hospital. 
Quando soube que a diretora morreu fiquei feliz, mas só depois que o leitor fica sabendo que ela era obesa simpática. Talvez se ele reservasse algumas linhas do primeiro capítulo para apresentar a diretora, eu teria ficado triste, mas não há esse tipo de ligação nos capítulos. Do nada surge Olga, Brucutu, Virgínia, diretora. Como o cenário é em parte a escola poderia ter apresentado os personagens com uma antecedência para o povo ter carisma.
E antes que eu me esqueça, a trama em si é confusa mesmo. Parece que a mina queria se matar, toma calmante e no fim não queria se matar. Isabel confessa o que sabe para o investigador e Olga, mas no fim não era Olga, era Virgínia. Quando estava no hospital, confunde novamente Olga com Virgínia. Quanta confusão para um livro infanto-juvenil.

-ORIGINALIDADE: eu sinto a originalidade em Bandeira, mas não sei explicar ao certo em que aspecto. No início acabei associando Isabel a Macabéa, depois com o plano de Olga eu remeti a Droga da Obediência. Mesmo eu associando as partes do livro com outras obras, eu sei que a originalidade de Bandeira está presente.

-PERSONAGENS: a mais bem trabalhada é Isabel e ponto. Cristiano é o Deus grego que a mãe fala que é inteligente, Rosana é a mina bonita e anta (tííípico), Brucutu é o bruta montes. Quando consigo designar adjetivos aos personagens, geralmente acho eles vazios, assim como pessoas. 
Enfim, Isabel é o centro. É a adolescente que se acha feia, que acha que ninguém gosta dela, de certa forma, nerd, sem ter com quem conversar, descobrindo a sexualidade, sem estrutura familiar. Um parênteses, que família.... Fecha parênteses. No final ela é taxada de gênia e tals, eu não achei, achei ela confusa.

-CLIMAX: para mim o climax é sempre que ela está conversando ou brigando com o inimigo, o espelho. No fundo, só nós sabemos o quais são os nossos pontos fracos e a imagem do espelho, neste caso, vem a calhar.

-DESFECHO: gostei de Isabel finalmente ter percebido Fernando e ter ficado com ele. Mas o final também fica um gosto de jovem que sobreviveu a um suicídio e isso, para um livro infanto-juvenil, acho complicado.

-DESIGN: a capa dessa edição dá uma sensação de livro triste, o que não é exatamente o que eu encontro dentro. Já vi capas de outras edições que eu acho mais coerente. No mais, gosto da distribuição dos capítulos, a letra grande.

-UMA FRASE: ''É melhor um fim trágico do que uma tragédia sem fim''.

-OUTROS COMENTÁRIOS: a garota que me falou desse livro falou que chorou e eu realmente não entendo em que parte isso pode ter acontecido. Também li resenhas que falam que a beleza interior é mais bonita que a exterior, que Isabel é bonita nas cartas, que as poesias dela incentivou os jovens leitores a escrever também... enfim. A minha opinião é bem diferente, nem parece que vivemos no mesmo mundo.
Todo mundo acha beleza interior, poesias e cartas bonitas da boca para fora, durante a ressaca do pé na bunda do bonitão. Mas depois a vida é nova... essa é a realidade.
Outra coisa, quando Isabel conhece Fernando ela só dá bola fora com ele, só fala coisas mal-criadas. Duvido que se uma mina hoje em dia saia acompanhada de uma festa se tomar as palavras de Isabel.
Outra, o fato de Isabel ficar falando toda hora que ama Cristiano, desde o segundo que viu ele na festa é muito chato. Não é a toa que o famoso ''eu te amo'' não vale de mais nada. Tanta mocréia falando de amor sem conhecer direito o objeto de amor...
E ainda mais outra... livro INFANTO-juvenil com partes de ''E agora, Cristiano, quer tirar minha calcinha?''  Sério, gente? Qual a necessidade disso? Parece até a Xuxa no programa dela contando uma piada para um menino de uns 6 anos: ''Uma garota tava na faculdade e a amiga dela perguntou se deu para passar e a garota responde: DEI''. Sério. A criançada vai ter tanto tempo e pressão suficientes para descobrir sexualidade e um livro desses não seria o local certo para abordar isso.

Agora chega de críticas: esse lance de Isabel falar tudo o que pensa enquanto está inconsciente era um antigo medo meu. Paixões, sexualidade, amizades... tanta coisa que a gente pensa quando é jovem que pode ser colocado contra nós mesmos. Aliás, depois de adultos isso pode ser o medo de tanta gente ainda. Que bom que não é mais um problema para mim.

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